VIROLOGIA Fiocruz seqüencia genoma do recém-descoberto retrovírus HTLV-2
Novo vírus sob suspeita

Janeiro. Com dificuldade de andar, fortes dores no corpo e incontinência urinária, ela seria o
segundo caso no Brasil. O HTLV-2, um retrovírus (ou seja, vírus composto por RNA) ainda
pouco conhecido na comunidade científica mundial, começou a ser
estudado por pesquisadores do Departamento de Genética da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Diante da possibilidade de associá-lo ao surgimento dos sintomas descritos acima, a equipe iniciou a sua caracterização
através do seqüenciamento do genoma.
Trata-se de um vírus com baixa taxa de mutação, e, até o momento, não foi comprovada a sua ação como
causador de doenças. A pesquisa se baseia em hipóteses, porque não se sabe exatamente como ele age no organismo
humano. No entanto, suspeita-se que milhares de
pessoas possam ser apenas portadoras do HTLV-2. Segundo o virologista Daniel Sá
Carvalho, coordenador da pesquisa, 97% dessas pessoas não desenvolvem
qualquer tipo de doença atribuível a esse vírus.
causador de doenças. A pesquisa se baseia em hipóteses, porque não se sabe exatamente como ele age no organismo
humano. No entanto, suspeita-se que milhares de
pessoas possam ser apenas portadoras do HTLV-2. Segundo o virologista Daniel Sá
Carvalho, coordenador da pesquisa, 97% dessas pessoas não desenvolvem
qualquer tipo de doença atribuível a esse vírus.
No Brasil, a transmissão do HTLV-2 ocorre,
principalmente, de mãe para filho durante o período de amamentação, mas existem
outras formas de contaminação, como transfusão de sangue, uso compartilhado de
seringas hipodérmicas, e relação sexual — via de contágio
menos eficiente. "Como se trata de um retrovírus como o HIV, o HTLV-2 tem
as mesmas formas de transmissão", compara
Carvalho. Estima-se que, no Rio de Janeiro, cerca de 0,3% da população
possa ser portadora do HTLV-2, o que não quer dizer que essas pessoas virão a desenvolver alguma doença. O vírus pode ser facilmente detectado — ou melhor, a presença
de anticorpos contra ele — através do teste Elisa (sorológico), feito antes da transfusão de sangue; se for constatada, dessa maneira indireta, sua presença no organismo, os médicos realizam um segundo exame, mais detalhado, no qual anticorpos contra HTLV-2 do soro do'
paciente se ligam a proteínas do vírus previamente separadas por eletroforese.
principalmente, de mãe para filho durante o período de amamentação, mas existem
outras formas de contaminação, como transfusão de sangue, uso compartilhado de
seringas hipodérmicas, e relação sexual — via de contágio
menos eficiente. "Como se trata de um retrovírus como o HIV, o HTLV-2 tem
as mesmas formas de transmissão", compara
Carvalho. Estima-se que, no Rio de Janeiro, cerca de 0,3% da população
possa ser portadora do HTLV-2, o que não quer dizer que essas pessoas virão a desenvolver alguma doença. O vírus pode ser facilmente detectado — ou melhor, a presença
de anticorpos contra ele — através do teste Elisa (sorológico), feito antes da transfusão de sangue; se for constatada, dessa maneira indireta, sua presença no organismo, os médicos realizam um segundo exame, mais detalhado, no qual anticorpos contra HTLV-2 do soro do'
paciente se ligam a proteínas do vírus previamente separadas por eletroforese.
Com o objetivo de conhecer o HTLV-2, a equipe está estudando os sintomas da carioca portadora do vírus, o
único detectado em seu organismo. "Queremos saber se os sintomas são causados por ele ou se estão relacionados a deficiências do sistema imunológico", diz o
virologista. Para isso, os cientistas estão sequenciando o genoma do vírus sem isolá-lo (ampliando especificamente a seqüência viral a partir do DNA total do paciente). "A expectativa
é que a comparação de informações sobre outras linhagens virais seqüenciadas, obtidas de pacientes com HTLV-2, nos permita
descobrir as características particulares das linhagens
patogênicas e o que podem ter em comum", explica Sá Carvalho. A intenção é decifrá-lo
único detectado em seu organismo. "Queremos saber se os sintomas são causados por ele ou se estão relacionados a deficiências do sistema imunológico", diz o
virologista. Para isso, os cientistas estão sequenciando o genoma do vírus sem isolá-lo (ampliando especificamente a seqüência viral a partir do DNA total do paciente). "A expectativa
é que a comparação de informações sobre outras linhagens virais seqüenciadas, obtidas de pacientes com HTLV-2, nos permita
descobrir as características particulares das linhagens
patogênicas e o que podem ter em comum", explica Sá Carvalho. A intenção é decifrá-lo
o
quanto antes na tentativa de se ampliar as possibilidades de prevenção. A primeira portadora com os
sintomas suspeitos, uma índia da tribo caiapó, no Pará, morreu antes do início das pesquisas.
quanto antes na tentativa de se ampliar as possibilidades de prevenção. A primeira portadora com os
sintomas suspeitos, uma índia da tribo caiapó, no Pará, morreu antes do início das pesquisas.
De origem africana, o HTLV-2 se
espalhou pela Ásia, atingindo os demais continentes. Os principais grupos de risco são os usuários de drogas e tribos indígenas. O vírus já foi detectado na Espanha, Irlanda e Estados Unidos, entre outros países. Na Itália, por exemplo, estão infectados por ele 30% dos viciados em drogas injetáveis, percentagem considerada alta pelos médicos, caracterizando uma epidemia nesse grupo. Segundo os pesquisadores, o HTLV-2 chegou ao Brasil no período das migrações
humanas há 15 mil ou 30 mil anos, quando os ancestrais dos índios vieram para o continente americano. A maior contaminação ocorreu entre as comunidades indígenas. Trabalho anterior ao coordenado por Sá Carvalho confirmou a contaminação em pelo menos 30% da tribo caiapó. do vilarejo de Xikrin. "Como boa parte da população carioca tem ascendência indígena, há uma suspeita de que muitas pessoas contraíram esse vírus ao longo de várias gerações", aponta Carvalho.
espalhou pela Ásia, atingindo os demais continentes. Os principais grupos de risco são os usuários de drogas e tribos indígenas. O vírus já foi detectado na Espanha, Irlanda e Estados Unidos, entre outros países. Na Itália, por exemplo, estão infectados por ele 30% dos viciados em drogas injetáveis, percentagem considerada alta pelos médicos, caracterizando uma epidemia nesse grupo. Segundo os pesquisadores, o HTLV-2 chegou ao Brasil no período das migrações
humanas há 15 mil ou 30 mil anos, quando os ancestrais dos índios vieram para o continente americano. A maior contaminação ocorreu entre as comunidades indígenas. Trabalho anterior ao coordenado por Sá Carvalho confirmou a contaminação em pelo menos 30% da tribo caiapó. do vilarejo de Xikrin. "Como boa parte da população carioca tem ascendência indígena, há uma suspeita de que muitas pessoas contraíram esse vírus ao longo de várias gerações", aponta Carvalho.
Parente mais próximo do HTLV-2, o HTLV 1 também vem causando enfermidades e se dissemina
pelo mundo. As doenças que caracterizam a ação desse vírus
no organismo são leucemia aguda e paraparesia espástica tropical (perda de tonicidade muscular que
leva à paralisia). "Trata-se de um grande problema que países como o Japão estão tendo que enfrentar. Em
algumas cidades japonesas, cerca de 10% da população está contaminada, sendo
que 5% dessa parcela desenvolve uma das doenças", explica Carvalho.
pelo mundo. As doenças que caracterizam a ação desse vírus
no organismo são leucemia aguda e paraparesia espástica tropical (perda de tonicidade muscular que
leva à paralisia). "Trata-se de um grande problema que países como o Japão estão tendo que enfrentar. Em
algumas cidades japonesas, cerca de 10% da população está contaminada, sendo
que 5% dessa parcela desenvolve uma das doenças", explica Carvalho.
Cristina Souto - Ciência Hoje /RJ- vol. 28 - nº 167/dez/00
http://cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/2012/295
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